Anelise De Carli

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em parceria com Camila Proto

A água leva e a água traz. Este projeto nasce de um fenômeno fabulativo: e se, entre os desastres das enchentes de 2024, o Guaíba inesperadamente fizesse aparecer indícios soterrados da sua história?

Cerâmicas são artefatos comumente encontrados em sítios arqueológicos através do trabalho das escavações. Elas são materiais tradicionais dos modos de ser e viver dos povos ameríndios e personagens essenciais para o processo de demarcação de Terras Indígenas. Uma série de processos de datação baseados em alterações químicas ou acúmulo de radiação nas peças permitem a um fragmento de argila queimada contar histórias.

Aqui propomos imaginar aquilo que as áreas inundadas de Porto Alegre poderiam falar. Por consequência da saturação do solo, que ocorre quando um terreno está encharcado por muito tempo, vestígios materiais – tais como peças Mbyá-Guarani – poderiam vir à tona, tornando novamente visível um passado que resistia sob nossos pés. O encontro desses indícios ajudaria a comprovar a presença indígena na região e, assim, áreas inundadas poderiam, de certa forma, falar a favor dos povos em retomada, testemunhando a sua ocupação milenar.

A instalação propõe um diálogo entre o fantasioso e o factual, tensionando as fronteiras entre arte e ciência, campos que acabam delineando aquilo que tomamos como verdade ou mentira, pensável ou impensável. Este universo não é apenasuma homenagem, mas um trabalho de reparação: uma tentativa de recuperar o protagonismo dos modos de ser e viver Guarani e de resguardar suas práticas de cuidado com os seres-terra que conformam o território onde todos vivemos.

Herança viva que pulsa nas margens da cidade, o modo de vida Guarani é um dos vários soterrados pela verdadeira terraformação empreendida pela modernidade – materializada em Porto Alegre através dos contínuos processos de aterramento, expansão urbana e especulação imobiliária. Narrando a possibilidade dessas descobertas, convidados o público a especular as consequências cosmpolíticas da possível “emergência” desses fragmentos e o que eles nos ajudariam a ver e a ouvir com mais nitidez.

Aparições do projeto

  • Porto Alegre hipotética (exposição coletiva), Goethe-Institut Porto Alegre, out — nov 2024
  • Deságua (exposição coletiva), Galeria Augusto Meyer, Casa de Cultura Mario Quintana, nov 2024 — mar 2025
  • Exposição individual, Fotogaleria Virgílio Calegari, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, nov 2024 — fev 2025
  • Campus Antropoceno América Latina (exposição coletiva), ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial/UERJ, dez 2024

Links relacionados

→ Museu de Arte Contemporânea inaugura exposição que repensa memórias Guarani na Porto Alegre pós-enchente

→ Matinal Jornalismo | Anelise De Carli e Camila Proto fabulam vestígios de uma Porto Alegre pós-enchente

→ Nervo Crítico | “Quando as águas vertem”, crítica de Gabriela Bertoldi